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MP investiga falta de tratamento de chorume

04/12/2018

A produção do chorume no Aterro Sanitário de Goiânia aumenta mais de quatro vezes no período chuvoso, o que faz encher as lagoas de tratamento no local e a substância proveniente do lixo tem de ser despejada na rede de esgoto. No período de seca, pela baixa quantidade, o chorume é devolvido ao lixo, de modo a amenizar a produção de poeira do local. Agora, novamente a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) utiliza caminhões-pipa para jogar a substância em um ponto de visita (estrutura da rede coletora onde há um tampão). Os lançamentos chamaram a atenção de moradores da região do Córrego Caveirinha, que denunciaram o caso às autoridades.

A denúncia dizia até mesmo que os caminhões estariam despejando o chorume na rede de água, ou seja, nas bocas de lobo, o que não foi confirmado pela Polícia Civil (PC) e vereadores que estiveram no local, além da própria Comurg. Segundo o delegado titular da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema), Luziano Severino de Carvalho, uma equipe foi enviada nesta quinta-feira (29) ao Aterro Sanitário para verificar a denúncia. “Não estão jogando na rede pluvial. Verificamos e estão jogando na rede de esgoto, conforme já faziam antes”, assegura.

Para evitar o uso dos caminhões-pipa, a Comurg realiza, em parceria com a Saneago, uma obra de canalização entre a terceira e última lagoa de reserva do chorume e a rede de esgoto. A obra tem cerca de 600 metros e fará com que se possa “controlar melhor o tempo que o chorume passa retido nas lagoas, aumentando assim o tempo de tratamento e consequentemente sua eficiência”, segundo a Comurg.

A companhia explica que “as duas primeiras são lagoas anaeróbias e nelas ocorre o tratamento biológico do chorume; a terceira é uma lagoa facultativa que ajuda no tratamento e é dela que sairá o encanamento de interligação com a rede de esgoto.” E ainda que “o descarte na forma que se encontra é mais seguro que transportando em caminhões até a ETE, já que os mesmos podem provocar acidentes e causar prejuízos à cidade, sendo, portanto, um avanço em descarte seguro e destinação final do chorume”.

Transporte

O delegado Luziano de Carvalho concorda que, com a obra, a situação ficará melhor que a atual e mais ainda do que no ano passado, quando os veículos cruzavam a cidade para transportar o chorume. No entanto, ele reforça que o ideal era que o chorume não precisasse sair de dentro do aterro para ser tratado. Vereadores da capital estiveram no local na quarta-feira pela manhã, também em razão da denúncia dos moradores. Entre eles estiveram Paulo Magalhães (SD), Jair Diamantino (PSDC), Anderson Sales Bokão (DC) e Emilson Pereira (Podemos), que afirmam relatar o caso à Comissão de Meio Ambiente da Câmara Municipal.

Presidente da comissão, o vereador Gustavo Cruvinel (PV), diz que também recebeu a denúncia, mas não esteve no local por ter verificado a situação no primeiro semestre, na Comissão Especial de Inquérito (CEI) do Mau Cheiro, que apurava as razões do odor no Rio Meia Ponte e uma das hipóteses levantadas era a ida do chorume sem o tratamento adequado até a ETE da Saneago. “Sabemos que a situação não é a ideal, mas eles estão jogando dentro do esgoto comum. Já relatamos o caso ao Ministério Público e à Polícia.”

Melhorias

De acordo com a Comurg, estão sendo feitas melhorias no tratamento interno “visando aumentar a eficiência do tratamento já realizado”. Além da ligação entre a lagoa 3 e a rede de esgoto, há a construção de uma lagoa de recalque. “Também estão programados para o mês de dezembro teste com uma estação compacta de tratamento de chorume através de tratamento eletrolítico com a empresa DBO Ambiental, tendo esse teste sido finalista do Prêmio Crea- GO, no quesito Elementos Naturais.”

MP investiga falta de tratamento

O promotor Juliano de Barros Araújo, da 15ª Promotoria de Justiça do Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO), explica que o despejo do chorume na rede de esgoto não é a situação ideal para o tratamento da substância, pois o Aterro Sanitário deveria ter uma estação de tratamento no local, algo semelhante à Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Saneago.

Este tratamento era feito até 2011, quando a Comurg perdeu a licença ambiental. Ainda assim, o órgão afirma que atualmente ainda faz um trabalho parcial com o chorume que chega a ter cerca de 55% a 60% de eficiência antes do resultado ser levado para a ETE Dr Hélio Seixo de Britto, no Setor Goiânia II. 

“A ETE do aterro não funciona adequadamente. Na seca é feito o sistema de religação, jogando o chorume de volta no lixo, mas nas cheias não dá para fazer isso”, conta Araújo. Ele relata que abriu um inquérito neste ano para investigar a situação do chorume no aterro. 

A Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) informa que no aterro sanitário “o chorume é tratado com bactérias anaeróbicas realizado em três lagoas impermeabilizadas com manta de PEAD”. E que atualmente está “seguindo as orientações da Avaliação Técnica Operacional (AVTO) para executar a interligação da lagoa 3 do aterro à rede coletora de esgoto”, alega em nota. Assim mesmo, o promotor considera que as medidas continuam sendo um paliativas, já que não há um tratamento total no local. “Mas já é melhor do que era.”

Além disso, sobre o aterro sanitário, há uma ação civil pública de 2014 proposta por Araújo sobre a adequação, que se refere desde a sua ampliação, que necessita da retirada de uma rede elétrica na área, até a implantação de um sistema de monitoramento. “Hoje em dia ninguém sabe a situação daquele morro. Há estudo do BID recente que mostra que não há certeza alguma sobre o aterro porque não há monitoramento.”


Fonte: O Popular - 29/11/2018 

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